Definindo os limites genéricos em Maxillaria,
por M. do Rosário de A. Braga e Delfina de Araujo
(palestra dada em 11/08/11)
Título alternativo: Realinhamento da tribo Maxillariinae
As análises filogenéticas efetuadas na subtribo Maxillariinae, pelo grupo liderado por Mario A. Blanco e com colaboradores de peso como German Carnevali, W. Mark Whitten, Rodrigo B. Singer, Samantha Koehler, Norris H. Williams e outros, levaram a alterações nomenclaturais muito importantes dentro do antigo gênero Maxillaria e provocaram a criação de novos gêneros e restabelecimento de outros.
Estas alterações afetaram a nós, orquidófilos e orquidólogos brasileiros, em função de grande número de espécies deste grupo que ocorrem em nosso território. É grande o número de colecionadores apaixonados por este gênero, sobretudo em função dos perfumes encontrados nas diferentes espécies. A primeira reação é dizer que não se aceita estas alterações e que vai continuar utilizando o gênero antigo. No entanto, se pensarmos assim, ainda estaríamos chamando muitas orquídeas de Cymbidium (Cymbidium andersonii, Cymbidium crispatum, Cymbidium marginatum) ou Epidendrum (Epidendrum elatius var. leopoldii para Cattlaeya leopoldii ou var. prinzii para Cattleya amethystoglossa) ou ainda Bletia (Bletia tuberculata para Brassavola tuberculata). Estas alterações são necessárias e importantes, no entanto, como nem todos têm acesso às publicações científicas, fica muito difícil acompanhá-las e adotá-las inclusive por desconhecer as razões que levaram os estudiosos a tais conclusões. Como as análises filogenéticas não são ainda definitivas (tudo vai depender do local escolhido para corte), volta e meia vem uma nova publicação e modifica tudo novamente. É, realmente, difícil saber qual a que devemos adotar. Com relação ao estudo do gênero Maxillaria os argumentos para aceitá-lo são bastante convincentes e o número de espécies estudadas (354) é bastante elevado. Sendo um dos maiores gêneros (sentido tradicional), é natural que as diferenças sejam muito pronunciadas e justifiquem a divisão entre outros menores. Ainda assim, o número de espécies hoje consideradas dentro do gênero Maxillaria ainda faz dele o maior dentro da subtribo.
A tabela que montamos nos dá uma idéia precisa destas diferenciações facilitando o entendimento das alterações. A tabela (restrita aos principais gêneros que ocorrem no Brasil) mostra as características de cada gênero como tipo de pseudobulbo, inflorescência, bráctea floral, pé da coluna, fibras no perianto, labelo, oferta ao polinizador e deiscência do fruto. Os gêneros abordados são: Maxillaria, Brasiliorchis, Heterotaxis, Mormolyca, Christensonella e Rhetinantha.
Bibliografia:
Blanco, Mário A., German Carnevali, W. Mark Whitten, Rodrigo B. Singer, Samantha Koehler, Norris H. Williams, Isidro Ojeda, Kurt M. Neubig & Lorena Endara. 2007. Generic Realignments in Maxillariinae (Orchidaceae).Lankesteriana, 7(3): 515-537.
Whitten, Mark & Mário A. Blanco. 2011. Defining Generic Limits in Maxillaria: a return to the Orchidaceous mine. Orchis, 80(2): 104-113.
Gêneros (com autores e data de definição)
Características |
Maxillaria
Ruiz & Pav.
1794 |
Brasiliorchis
R. Singer, S. Koehler & Carnevali, 2007 |
Heterotaxis
Lindl.
1826 |
Mormolyca
Fenzl.
1850 |
Christensonella
Szlach.
2006 |
Rhetinantha
M.A. Blanco
2007 |
Nº total de espécies
(em 2011) |
250 |
13 |
13 |
25 |
12 |
15 |
Espécie tipo |
M. candida Lodd. ex Lindl. ** |
B. picta
(Hook.) R.Singer, S. Koehler & Carnevali (ocorrência: Br) |
H. crassifolia Lindl. (ocorrência: Br) |
M. lineolata Fenzl. (ocorrência:xxx) |
C. subulata (Lindl.) Szlach. (ocorrência: Br) |
R. acuminata (Lindl.) M.A. Blanco |
Espécies no Brasil |
M. ochroleuca e mais 3 |
B. marginata e mais 12 |
H. brasiliensis, H. valenzuelana e mais 7 |
M. cleistogama e M. rufescens |
C. acicularis e mais 2 |
R. cerifera e R. divaricata |
Região de Ocorrência |
América do Sul e América Central |
América do Sul (=Mata Atlântica) |
América do Sul, basicamente no Br |
América do Sul e América Central |
Maioria na Amércia do Sul |
? |
Hábito |
Epífitas |
Epífitas |
Epífitas com crescimento simpodial |
Epífitas com crescimento simpodial |
Epífitas e pendentes ou litófitas e eretas |
Epífitas c/ crescimento simpodial |
Pseudobulbos |
Agregados, unifoliados
Compressão lateral, lisos, c/ ou s/ bainhas foliáceas ou não * |
Agregados ou distantes
sulcados, bifoliados,
c/ bainhas não foliáceas |
Agregados, compressão lateral, oblongos, unifoliados, c/ muitas bainhas foliáceas. |
Unifoliados, c/ textura verrucosa (mt pequenas), c/
Bainhas não foliáceas. |
Agregados ou distantes, sulcados, c/ várias bainhas foliáceas, entre 1-4 folhas apicais, c/ muitas bainhas não foliáceas. |
Sub-cespitosa a distantes, sulcados, entre 2-4 folhas apicais, entre 1-2 bainhas foliáceas |
Inflorescência |
Da base do pseudobulbo + jovem |
Varias simultaneamente, da base do pseudobulbo + jovem. |
(não mencionado) |
Nas axilas das brácteas, bem distante do pseudobulbo + jovem. |
(não mencionado) |
Geralmente das brácteas do rizoma, alguns pseudobulbos atrás. |
Bráctea floral |
Tamanho variável |
Curta |
(não mencionado) |
(não mencionado) |
(não mencionado) |
(não mencionado) |
Pé da coluna |
Proeminente |
Variável |
Muito curto |
Muito curto, arqueado |
(não mencionado) |
Muito curto |
Fibras no perianto |
Sim |
não |
sim |
Não |
Sim |
Sim |
Labelo |
(não mencionado) |
Tri-lobado |
(não mencionado) |
Tomentoso e em forma de inseto. |
c/ calo seco |
Secreta substância resinosa grossa. |
Oferta ao polinizador |
S/ nectar, c/ pseudopolen |
Não |
c/ tricomas grandulares |
Maioria c/ tricomas grandulares no calo. |
(não mencionado) |
(não mencionado) |
Deiscência do fruto |
Lateral |
apical |
Lateral |
apical |
Apical |
Lateral |
Gêneros (com autores e data de definição)
Características |
Maxillariella
Blanco & Carnevali 2007 |
Mapinguari
Carnevali & Singer 2007 |
Sauvetrea
Szlach. 2007 |
Ornithidium
Salisb. 1813 |
Camaridium
Lindl. 1824 |
Nitidobulbon
Ojedam Carnevali & G.A. Romero ??? |
Nº total de espécies (2011) |
50 |
4 |
15 |
60 |
80 |
3 |
Espécie tipo |
M. diuturna (Ames & C. Schweinf.) M.A. Blanco |
M. longipetiolatus ((Ames & C. Schweinf.) Blanco & Carnevali |
S. alpestris (Lindl.) Szlach. (ocorrência: Br) |
O. coccineum (Jacq.) Salisb. ex R. Br. |
C. ochroleucum Lindl. (não M. ochroleucum Lodd. ex Lindl.) |
?? |
Espécies no Brasil |
M. alba |
M. auyantepuiensis e M. desvauxianus |
Apenas a sp tipo |
O. parviflorum |
C. hoehnei |
N. nasuta (AM e ES) |
Região de Ocorrência |
México, Am. Central e norte da Am. do Sul. |
Norte da América do Sul (até SP) |
?? |
?? |
América Central e América do Sul. |
?? |
Hábito |
Epífitas, crescimento simpodial e monopodial quando adultas. |
Terrestres (areia) ou litófitas (calcáreo) |
Epífitas |
Epífitas, poucas dimórficas. |
Epífitas, algumas dimórficas |
Epífitas |
Pseudobulbos |
Agregados oi distantes,ovóides, uni ou bifoliados, c/ bainha; às vezes ausentes. |
Agregados, unifoliados, lisos ou levemente sulcados. |
Agregados a moderadamente distantes, unifoliados, 2 bainhas não foliáceas |
Agregados ou distantes, ou ausentes. Ovóides com superfície como verniz quebradiço. |
Separados por rizomas de tamanho variável, algumas cespitosas ou sem pseudobulbo. |
Oblongos, brilhantes, lisos, c/ 4-6 bainhas, uni ou bifoliados. |
Inflorescência |
Uma flor produzida de cada folha ou bractea. |
Curtas, na base do pseudobulbo + jovem. |
Na base do pseudobulbo + jovem. |
Fasciculada |
(não mencionado) |
(não mencionado) |
Bráctea floral |
Mais curta que o pedicelo e ovário. |
(não mencionado) |
(não mencionado) |
Bem + curta que pedicelo e ovário. |
Mais longa que o pedicelo e ovário, cobre sépala dorsal. |
(não mencionado) |
Pé da coluna |
Muito curto |
Muito curto. |
Curto |
(não mencionado) |
Mais ou menos longo. |
Muito curto |
Fibras no perianto |
(não mencionado) |
Sim |
Não |
Não |
Não |
Sim |
Labelo |
Simples ou trilobado |
Vertical ou quase. |
Lingulato, lobo central + longo, calo sulcado. |
(não mencionado) |
(não mencionado) |
Frequentemente reflexo, c/ calo lingulato |
Oferta ao polinizador |
Não |
Não |
Não |
Néctar frequente |
Algumas com néctar |
Secreta resina. |
Deiscência do fruto |
Lateral |
(desconhecida) |
Lateral |
Apical |
Apical |
Lateral |

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