DOENÇA DE ORQUÍDEAS II

Professor João Araújo – Agrônomo da UFRRJ


O maior problema das coleções de orquídeas são as infestações por fungos. Também são eles os patógenos com mais chance de serem combatidos. Já a infecção viral, uma vez instalada, nada mais poderá ser feito para debelá-la. A única solução é a prevenção.

Normalmente as doenças são associadas a estresses por fatores abióticos tais como variações bruscas de temperatura, exposição ao sol em demasia, excesso de umidade, excesso de nutrientes e salinidade do substrato pela administração excessiva de adubos. Devemos ter cuidado com regas, adubação e até mesmo aplicação de medicamentos em horários do dia em que a temperatura está alta ou que raios solares estejam incidindo sobre as folhas para evitar queimaduras que são porta de entrada para o patógeno. Devemos lembrar que uma gota de água sobre uma folha poderá se transformar em uma lente que potenciará os raios solares.
Os esquemas de adubação deverão ser revisto para que as plantas vivam saldáveis. Devemos lembrar que na natureza as orquídeas não são bombardeadas com doses maciças de nutrientes. A salinização do substrato é conseqüência do excesso de adubo. Esta adubação desproporcional poderá ter efeito inverso ao desejado provocando um bloqueio do desenvolvimento das raízes e conseqüentemente da planta Então uma adubação mensal já está adequada. Mais do que isso é causar estresse na planta. Um outro fator que pode causar a salinização do substrato é a água de regiões próximas a restingas e a praias (água de poço). Este é um problema muito freqüente em orquidários na região de Marica no Rio de janeiro.
Por último devemos lembrar que a rega excessiva pode ser fator de estresse para a planta, bem como uma drenagem insuficiente do vaso pode provocar um acúmulo de água que será letal.

Como devemos proceder?
1 - Fazer um diagnóstico através dos sintomas
2 - Identificar o agente.
3 - Coleta do material
4 - Envio para a UFRRJ
5 - Exames

Aqui cabe ressaltar que devemos ter um comportamento constante ao entrar no orquidário.
1 – Um saco plástico preso à cintura onde deverão ser colocados os restos de plantas e de flores velhas que serão retiradas. Jamais os jogue no chão ou os deixe sobre a bancada.
2 – Recipiente com instrumentos cortantes desinfetados ou no caso de termos apenas 1 este deve ficar imerso em solução desinfetante.

Anthracnose (Colletotrichium gloesporioide) Deve ser feita a retirada das partes afetadas que deverão ser queimadas.
Observa-se na planta uma mancha apical que inicialmente foi provocada pelo sol e que facilitou a entrada do patógeno. As manchas da Antracnose se caracterizam por manchas concêntricas que avançam pelas folhas. Posteriormente essas manchas ficam cobertas por um pó alaranjado que são os esporos do fungo, que são a parte propagativa dos mesmos. As partes afetadas devem ser removidas, ou cortadas com uma tesoura e o corte deve ser pincelado com uma pasta mole feita com Cupro Dimi ou similar e água. O material infestado deve ser colocado no saco plástico e posteriormente queimado. Deve-se evitar a rega com mangueira preferindo-se fazê-lo delicadamente direto no substrato. Para o caso de poucas plantas com uma única lesão este é o procedimento padrão além da colocação da planta em quarentena.
Em caso de infestações de muitas plantas deve-se utilizar Mancozeti (Manzape) 1g/L com 2 gotas de detergente usado como dispersante e óleo mineral ou de soja para aumentar a adesão em 1 única dose. No caso em que a infestação escapou completamente ao controle pode-se usar o Mancozebi 0,5g/L com Oxicloreto de Cobre (Cupro Dimi) 0,5g/L em 4 aplicações com intervalo de 10 dias.
OBS – O Fungicida deve ser usado momentaneamente e jamais incorporado à rotina. Devemos lembrar que a droga altera o metabolismo da planta que assim estará ocupada se desintoxicando quando poderia estar preparando a floração.

Mancha de Fusárium (Fusárium oxysporum cattleya) - Coloniza o sistema radicular da orquídea. A planta apresenta bulbos murchos formando vincos, folhas secas e encarquilhadas a que parecem quebradas na junção com o bulbo. O fungo consome a reserva de amido e a água da planta. Existem pouquíssimas chances de reversão do quadro, pois à medida que a planta cresce o fungo se dissemina para as partes novas.
É recomendável a queima da planta, desinfestação de ferramentas, limpar as unhas. Também se deve ter cuidado com os substratos de origem suspeita. Os vasos na medida do possível não devem ser reaproveitados. Se for reaproveitado, deve-se colocar em cloro a 0,5% ou Cândida a ¼.
Deve-se tomar cuidado com as raízes que saem do vaso e que se tocam umas as outras em cima da bancada, que se forem de madeira, devem ser desinfestadas periodicamente com solução de cloro na concentração acima.
Pode-se tentar recuperar as plantas eliminando as partes velhas e imergindo as partes novas em solução de Benlate 2,5g/L durante 15 min. Depois da imersão a planta deve ser colocada em bancada forrada com jornal por 24h e só então reenvazada. Também pode ser usado o Previcur ou o Cercobim.

Podridão de Rizoctonia (Rizoctonia solanum) Este patógeno entra na planta pela raiz e digere o amido do bulbo provocando o amolecimento do mesmo. O fator facilitador da infecção é o excesso de regas ou vasos mal drenados. Deve-se fazer a remoção e destruição das pares doentes e isolamento da planta afetada. Tratamento com Derosal.

Podridão Negra – É introduzida por plantas, vasos e água contaminada e facilitada por excesso de umidade e vasos com drenagem deficiente. Esses fungos são nativos do solo e por isso deve-se ter muito cuidado com substratos de origem duvidosa. Substratos industrializados são esterilizados. Para desinfecção do xaxim, este deve ser espalhado em camada fina numa área acimentada e então coberto com um plástico preto ao sol por 3 dias. O fungo atinge a temperatura de 80°C que já é suficiente para eliminar o fungo.

Ferrugem – Este fungo ataca principalmente os oncidiuns. Apresenta-se com manchas de coloração amarronzada que posteriormente são recobertas por um pó de cor alaranjada que são os esporos do fungo. Ocorrem principalmente na face inferior da folha. Deve-se remover a planta do orquidário e isola-la. Cortar as folhas afetadas e queimar. Evitar molhar as folhas. O Fungicida de escolha é o clorotalonil ou fungicidas á base de cobre. É muito importante remover as partes afetadas. O cuidado na aplicação é fundamental. O fungicida TEM que ser aplicado de baixo para cima.

Mofo cinzento – Incide sobre as flores. Proteja as flores de vento forte e a irrigação deve ser direcionada ao sistema radicular para evitar que a flor seja molhada. As flores se apresentam com manchas cinza ou com manchas verdes em pétalas albas. Estas manchas são causadas por produção de clorofila numa tentativa do fungo aumentar a sua sobrevida. O tratamento é feito por remoção e queima da flor afetada. Como prevenção deve-se usar Cercobim de 0,5 a 0,8g/L ainda na fase de botão. É importante frisar a importância de se tirar as flores velhas das bancadas, bem como folhas ou qualquer resto de planta. A limpeza da bancada é fundamental.

Manchas foliares (Phoma pestalozzia) - Ocorre principalmente nas Vandas. Causa lesões extensas no limbo das folhas provocando o trincamento das mesmas. Forma manchas alongadas em forma de losango ao redor das nervuras. A Phoma pestalozzia é um fungo oportunista e como a Vanda tem crescimento lento, quando a infestação é percebida a planta já está bastante afetada. Tratamento Pulverização preventiva de Cercobim ou Cupro Dimi.

BACTÉRIAS
Podridão mole - Causada pela Erwinia carotovora que degrada a parede celular. Phalaenopsis perde a folhagem e é morte certa. Como prevenção deve-se ter muito cuidado com a coroa do Phalaenopsis. Apresenta-se inicialmente como uma mancha encharcada que se expande. É difícil de controlar. Pode-se perder todas as plantas em menos de uma semana. Como exemplo foi citado o Orquidário Quita do Lago cujas plantas foram dizimadas em 3 dias após uma grande enchente de verão. Pode-se tentar a recuperação da planta deixando-a em lugar bem arejado e sem regar de 20 a 25 dias. Após este período molhar apenas o substrato. A Erwinia é uma bactéria nativa do solo e qualquer situação de estresse para a planta como chuvas muito prolongada ou regas excessivas podem desencadear a doença.

VÍRUS
È muito difícil de diagnosticar, porém pode-se colocar a planta contra a luz para ver o efeito de mosaico produzido nas folhas. Os principais vírus que aparecem nos cultivos no Brasil são o Vírus do Mosaico do Cymbidium, o Vírus da Mancha Anelar do Odontoglossum, que são muito freqüentes em Odontoglossum, Oncidium e Phalaenopsis apresentando anéis amarelados cloróticos nas folhas. Podem permanecer assintomático por toda a vida de uma planta bem cuidada. Por essa razão deve-se ter muito cuidado com os instrumentos de corte e com picadas de insetos, pois estes são os principais agentes de disseminação do vírus.
Mais recentemente foi identificado um novo vírus que é o Vírus da Mancha da Orquídea. Afeta principalmente Oncidium flexuosum. Formam anéis necróticos.

Os vasos não devem ser reaproveitados, mas caso seja necessário deve-se deixar os vasos de plástico por 10 minutos em Água Sanitária a 50% . No caso dos vasos de barro deve-se contar os 10 minutos à partir do momento que cessar a formação de bolhas de ar, o que significa que a cerâmica está completamente encharcada. Pode-se usar também Cloreto de Cobre.