COLECIONANDO DENDOBRIUM
Maria Lúcia Alvarenga Peixoto
O
gênero Dendrobium é um dos maiores da família
Orquidácea, só perdendo para o gênero Bulbophyllum.
O número de espécies que ele contem não é
muito preciso. Muitos botânicos dizem que é de, pelo menos,
1000, enquanto outros acham que é de mais de 1400.
O gênero é tão grande que se pensa em dividi-lo em
gêneros menores, mas os taxonomistas não deram sua aprovação.
Em vez disso, ele é dividido em seções.
Originalmente do Sudeste da Ásia, o Dendrobium tem uma vasta
distribuição: das ilhas do Pacífico ao Himalaia,
incluindo Burma, Malásia, Sul da China, Tailândia, Japão,
Filipinas, Austrália e Nova Zelândia. Em especial está
a Papua Nova Guiné, onde há uma grande quantidade de Dendrobiums diferentes.
A grande maioria dos Dendrobiums é de plantas epífitas.
Umas poucas foram encontradas em rochas e outras, em ainda menor número,
são terrestres, por isso Olaf Swartz, que estabeleceu o gênero
em 1799, deu-lhe o nome “Dendrobium”, do grego “dendros”
= árvore e “bios” = vida ou, em outras palavras, “planta
vivendo nas árvores”.
Adaptado a um vasto número de diferentes “habitats”,
os Dendrobiums variam consideravelmente em sua estrutura. As folhas
variam em tamanho, de minúsculas a muito grandes, cilíndricas,
suculentas, persistentes ou decíduas, longas, estreitas ou largas,
com formas curiosas e numa grande variedade de tons de verde. Umas poucas
têm pelos. Os pseudobulbos podem ser ovoides, fusiformes, lisos
ou com nós salientes, na forma de canas longas, macias ou duras,
pendentes ou eretas. Há plantas com pseudobulbos mínimos,
com cerca de 1 cm (Den. delicatum, Den. awesii) e outros que chegam
a 5 m.
O Dendrobium é planta simpodial, geralmente com um rizoma
do qual novos pseudobulbos ou novas raízes se desenvolvem cada
ano.
As flores são muito variáveis em forma, textura, duração
e em grande parte são grandes e coloridas. Quase todas as cores
podem ser encontradas nesse gênero, exceto, talvez, o azul, sendo
que algumas cores contrastantes numa única flor, o que a torna
espetacular. É o caso de um Dendrobium que tive, Den.
obtusisepalum, da Nova Guiné, de cor amarela e alaranjada,
belíssimo, mas que já morreu.
Há flores que duram menos que um dia e outras que duram muitos
meses, como é o caso do Dendrobium cuthbertsonii,
que chegam a durar 9 meses. A maioria tem flores que duram de 2 a 3 semanas.
Em poucas plantas as flores são solitárias, mas na maioria
elas são em cachos.
Os Dendrobiums são as orquídeas mais floríferas
na natureza e também em cultivos com boas condições,
o que os fazem mais atrativos e dos mais populares mundialmente. Cada
ano mais pessoas se tornam conhecedoras da beleza dos Dendrobiums.
É natural, então, que muitos hibridadores tenham se concentrado
grandemente nesse gênero. Em muitos casos os híbridos são
um melhoramento das espécies e os híbridos modernos são
mais fáceis de cultivar do que as espécies colhidas nos
seus habitats.
Minha preferência é pelas espécies e já tive
vários Dendrobiums especiais da Nova Guiné, mas que
não resistiram ao meu cultivo.
Há Dendrobiums em todos os tipos de climas : frio, temperado,
quente úmido e quente seco e embora sejam extremamente diferentes,
na maioria dos Dendrobiums, as necessidades são as mesmas.
Falemos sobre o cultivo dos Dendrobiums:
LUZ
Quase
todos gostam de luz natural intensa para que desenvolvam pseudobulbos
saudáveis, mas deve ser evitado o sol forte direto, que pode queimar
suas folhas. Esse tipo de luz, entretanto, não é necessário
o ano todo, mas sim no período de crescimento ativo. Por causa
disso é difícil criar Dendrobiums dentro de casa
ou sob luz artificial.
TEMPERATURA
Conforme já dissemos, há Dendrobiums para quase todas
as condições de temperatura e por causa de suas necessidades
especiais, em têrmos de água e calor, é possível
dividir o gênero em seis grupos de cultivo, que consideraremos mais
adiante.
UMIDADE
E REGA
Durante seu período de crescimento, o Dendrobium necessita
de regas abundantes, particularmente no verão. Entre uma rega e
outra é importante deixar o substrato secar quase completamente.
Boa ventilação e a boa secagem das raízes entre as
regas são absolutamente essenciais, senão a função
respiratória da planta, da qual as raízes são responsáveis,
fica seriamente comprometida.
No verão a freqüência das regas é de uma vez
a cada dois ou três dias. No outono e no inverno, há duas
situações a considerar:
Dendrobium com folhas persistentes: deve ser dada uma quantidade
de água que evite os pseudobulbos murcharem (+/- uma vez por semana).
Dendrobium com folhas decíduas: não deve ser regado,
a não ser muito espaçadamente, para evitar que ele seque
demais.
O nível de umidade deve ser 60-70% durante o crescimento e ele
pode ser reduzido grandemente no período de repouso.
ADUBAÇÃO
O Dendrobium em geral necessita de muita adubação e
isso deve ser feito no mínimo duas vezes por mês no verão
e enquanto está crescendo, com um fertilizante do tipo NPK 30-10-10
ou 20-20-20 e no fim do verão e no outono um fertilizante com mais
fósforo (P) para prepará-lo para a floração.
Exceção a essa regra geral são as espécies
de grande altitude da Nova Guiné, que necessitam bem pouca adubação.
Nunca se deve esquecer de molhar o substrato antes de aplicar o fertilizante.
Os livros aconselham que durante o período de repouso não
se deve adubar os Dendrobiums, mas há orquidófilos
que usam adubo nessa época, porém em menos quantidade.
REPLANTIO
E SUBSTRATO
Replantar
é um aspecto importante no cultivo dos Dendrobiums.
Eles devem ficar firmes no vaso, com algum suporte. Plantas frouxas nunca
se desenvolvem. O vaso deve ser tão pequeno quanto possível,
proporcional ao tamanho das raízes.
Um vaso pequeno garante uma melhor drenagem e a secagem das raízes
entre as regas. Sob essas condições o substrato se decompõe
muito mais devagar e o replante, que é um evento dramático
para o Dendrobium, somente será feito a cada três
ou quatro anos. Esse intervalo ajuda a produzir raízes vigorosas,
o que não seria o caso se replantado anualmente.
O problema do equilíbrio que surge com plantas longas num vaso
pequeno, pode ser resolvido colocando o vaso pequeno dentro de um maior
e entre eles pedras ou então dependurando o vaso.
O vaso dependurado é ideal para cultivar Dendrobiums pendentes
e mais, essa solução beneficia a planta com mais calor e
luz, melhora a drenagem e concorre para seu melhor crescimento. Vasos
com aberturas no fundo e na lateral arejam o substrato e o seca mais rapidamente.
Muitos orquidófilos usam placas de xaxim, casca de árvores
ou troncos para amarrar os Dendrobiums, criando condições
parecidas com as do habitat.
O momento ideal para o replantio é quando as raízes começam
a crescer, o que acontece com os Dendrobiums na primavera. É
um erro grande replantar quando a orquídea está em repouso,
o que pode ocasionar a sua morte.
Algumas precauções a serem a serem observadas :
Não regar por uma ou duas semanas, mantendo a planta na sombra,
onde não seja muito quente.
Deve-se usar um spray na folhagem para evitar ressecamento.
O tipo de substrato varia consideravelmente : xaxim, coco, pedaços
de casca de pinho, etc.
Não se deve usar asfágno ou outro substrato que retenha
muita água.
PROPAGAÇÃO
As
espécies de Dendrobium são facilmente reproduzidas
através das sementes. Também através de meristema
ou outras técnicas de cultura de tecidos.
Um método extremamente fácil e bem popular de propagação
é através dos keikis, pequenas plantas que se desenvolvem
em pseudobulbos, tipo canas antigas, que devem ser destacados quando tiverem
dois ou três pseudobulbos e raízes de 5 a 10 cm. Essas mudas
são idênticas à planta mãe.
A divisão das plantas, ao replantar, não é um bom
método de reprodução. Se a divisão é
feita com um rizoma muito curto, o choque da planta pode ser muito grande.
A tendência moderna é replantar e deixar um intervalo de
umas três semanas antes de fazer a divisão no próprio
vaso e não regar dentro de uma semana.
Como em todas as orquídeas simpodiais, a regra dos três pseudobulbos
deve ser seguida. Isto produz um melhor efeito estético e as flores
serão de melhor qualidade.
O corte de pseudobulbos é outro método de reprodução.
É possível cortar um pseudobulbo velho em 10 ou mais peças,
cada uma possuindo entrenós. Coloque-os num meio úmido e
morno como em areia ou asfágno. Em poucas semanas algumas plantinhas
aparecem, tipo keikis, que podem ser plantados mais tarde.
GRUPOS
DE CULTIVO
Levando
em conta suas necessidades em termos de rega e temperatura, os Dendrobiums podem ser divididos em seis grupos de cultivo:
Grupo I:
É o dos Dendrobiums de folhas decíduas, que devem
ser mantidos numa temperatura intermediária ou quente na primavera
e verão e fria no inverno. Enquanto em crescimento as plantas devem
ser regadas e adubadas generosamente e ter bastante luz, enquanto no inverno
a rega deve ser totalmente suspensa e a adubação interrompida,
mantendo bastante luz. Se não tiverem esse tratamento no inverno,
eles não vão florir propriamente e, no lugar de flores,
eles produzirão keikis. As principais espécies nesse grupo
são: Dendrobium nobile, Den. chrysanthum e Den. wardianum.
Grupo II:
É o dos Dendrobiums de folhas decíduas e que devem
ser mantidos numa temperatura quente o ano todo e mantido seco no período
de repouso no inverno, apenas tendo alguma rega leve para os pseudobulbos
não murcharem.
Rega e adubação devem ser abundantes no verão e interrompidas
no inverno.
Apesar de sua necessidade de luz, esses são os únicos Dendrobiums que tem alguma chance de se adaptar dentro de casa.
As principais espécies desse grupo são: Den. anosmum ou superbum, Den. findlayanum, Den. heterocarpum ou aureum,
Den. parishii, Den. pierardi e Den. aggregatum (incluído
neste grupo apesar de ter folhas persistentes).
Grupo III:
É o dos Dendrobium de folhas persistentes e que devem ser
cultivados como os do Grupo I, mantidos na temperatura intermediária
ou quente no verão e fria no inverno. Entretanto, devido ao fato
de terem folhas persistentes, eles não precisam de um período
seco no inverno, somente regas menos freqüentes neste período,
por causa da evaporação mínima e da diminuição
do metabolismo da planta. Rega e adubação devem ser abundantes
no verão.
As principais espécies são: Den. densiflorum, Den. farmeri,
Den. fimbriatum, Den. moschatum e Den. thyrsiflorum.
Grupo IV:
É o dos Dendrobiums de folhas persistentes, mas, na maioria,
plantas de altitude alta que devem ser cultivadas o ano todo em temperatura
fria, com boa luminosidade. A temperatura noturna não deve cair
abaixo de 12 graus centígrados no inverno e 15 graus no verão.
A rega deve ser suspensa por um breve período de cerca de três
semanas após a fase de crescimento, isto é, no começo
do outono.
Incluídos neste grupo estão os Dendrobiums da seção formosae, que são os que tem pelos negros. São eles: Den. dearei, Den. formosum, Den. lyonii, Den. infundibulum, Den. macrophylum,
Den. sanderae e Den. schwetzei e outros da seção Pycnostachya: Den. secundum, Den. pseudoagylome, Den. victoriae-reginae,
Den. bracteosum e Den. smillieae.
Grupo V:
É o dos Dendrobiums de folhas persistentes, tendo necessidades
semelhantes às do grupo IV, mas são cultivados em temperaturas
mais altas, isto é, em temperatura intermediária, nunca
abaixo de 15 graus centígrados.
Muito orquidófilos não proporcionam período de repouso
a este grupo, mas as opiniões variam e outros dão cerca
de três semanas após o período de crescimento, com
bons resultados aparentemente.
Este grupo inclui os conhecidos como Dendrobium antílope,
em referência às pétalas laterais torcidas. As principais
espécies são: Den. taurinum, Den. undulatum, Den. veratrifolium,
Den. gouldii e Den. stratiotes.
Grupo VI:
É o dos Dendrobiums de folhas persistentes, mas que devem
ser mantidos em temperatura quente. A temperatura noturna, nunca abaixo
de 15 graus centígrados no inverno e abaixo de 17 no verão.
Gostam de luz intensa, mas os híbridos de Dendrobium phalaenopsis crescem em condições de pouca luz.
A redução de regas após o período de crescimento
é necessária para a boa formação da inflorescência.
A água deve ser abundante quando a floração começa
e diminuída outra vez até o aparecimento de novos brotos.
É essencial usar a água em spray durante esses períodos
de racionamento de água.
Estão incluídos neste grupo: Den. phalaenopsis (também
híbridos), Den. bigibbum e Den. superbiens (híbrido
natural entre Den. bigibbum e Den. discolor).
PESTES
E DOENÇAS
Dendrobiums sofrem com as mesmas pestes que as outras orquídeas criadas num
orquidário: ácaros, pulgões e cochonilas são
as piores. Caramujos e lesmas atacam os brotos e botões das flores
e devem ser catados à noite.
Também várias bactérias e fungos atacam os Dendrobiums.
Vírus não é um grande problema com os Dendrobiums,
a não ser que sejam contaminados por plantas infectadas na coleção.
ALGUNS
LIVROS RECOMENDADOS E CONSULTADOS:
Orchid
Species Culture: Dendrobium - Margaret L. Baker and Charles O.
Baker
Dendrobiums: An Introduction to the Species in Cultivation - Sybella
Schelpe and Joyce Stewart
Dendrobium Orchids of Australia - Walter T. Upton
Orchid: Care and Cultivation - Gérald Leroy-Terquem and Jean Parisot |