Cattleya intermedia, uma jóia do litoral brasileiro


A orquídea brasileira Cattleya intermedia, de flores grandes (9x9cm) e com detalhes de forma e coloração bastante variada, já foi uma planta bastante comum em vários pontos do litoral das regiões Sul e Sudeste.  A espécie ocorre como epífita (grudadas em troncos) ou crescendo em pedras ou sobre a areia, entre a vegetação litoranea dos estados de Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Rio de Janeiro. 
No estado do Rio de Janeiro, C. intermedia ocorre atualmente apenas em um restrito trecho da Região dos Lagos, em área hoje incluida no Pq. Estadual da Costa do Sol.  O ambiente de restinga, com vegetação baixa crescendo sobre dunas, é de grande fragilidade, estando sob a influência de ventos constantes, alta insolação e grande pressão humana.
 
(Clique aqui para conhecer um pouco sobre restinga)

No extremo sul da distribuição, no estado do Rio Grande do Sul, o ambiente é bem diferente.  Lá,  C. intermedia cresce como epífita em arbustos conhecidos como “corticeira”, na reserva do Banhado do Taim, estando sujeita a temperaturas bem mais baixas e a um grau de umidade bem distinto. 
A grande amplitude de distribuição longitudinal é um fator positivo para o cultivo: C. intermedia é uma planta resistente, desenvolvendo-se bem sob várias condições de temperatura, sempre sob alta luminosidade. A umidade deve ser constante e, no verão, a rega mais abundante.  A época de floração é entre outubro e novembro quando, no passado, era possível referir-se a “um mar de intermédias”.  Suas flores exalam um delicado perfume durante o dia.
Há várias décadas orquidófilos brasileiros vêm promovendo o “melhoramento” da espécie através da seleção e cruzamento das inúmeras variedades horticulturais de forma e cor que selecionaram.  Nestes casos, as plantas provenientes dos cruzamentos entre variedades não são híbridos, mas novas variedades da própria espécie. Alguns orquidófilos gaúchos se destacaram neste campo e entre eles devemos mencionar Walter Haetinger, Sergio Englert e Aldomar Sander.  No nosso estado, o advogado e orquidófilo Álvaro Pessoa foi o que mais trabalhou no melhoramento de C. intermedia, usando variadades adquiridas do Rio Grande do Sul.


Cattleya intermedia na restinga (foto MRABraga)



Cattleya intermedia var. coerulea (foto MRABraga)



Cattleya intermedia 017 Senna (foto Senna)



Cattleya intermedia  var. orlata ‘Alvaro Pessoa’ (foto Ken Jacobsen)

 

Híbridos de Cattleya intermedia


Cattleya intermedia é uma espécies bastante cobiçada por colecionadores e tem sido muito usada também para hibridação. A primeira vez que se usou Cattleya intermedia na criação de híbridos foi em 1856, na Inglaterra. Desde então, foram registrados mais de 3500 híbridos que descendem desta espécie brasileira. 
Podemos nos perguntar por que fazer híbridos, se a espécie já é tão bonita?  Ao cruzar diferentes espécies ou híbridos, o hibridizador procura combinar características consideradas “boas”, como cor, tamanho, forma e durabilidade das flores, assim como a quantidade de flores.  
É por isto que hoje, ao se pensar em usar Cattleya intermedia em um cruzamento, só são usadas variedades já consagradas, como as C. intermedia var. aquinii e var. flamea, conhecidas pela sua capacidade de transmitir à decendência belos efeitos de mesclagem.
O híbrido Cattleya Di Pozzi Tiziano, com coloração azulada e pétalas flameadas é um destes exemplos.
Híbrido registrado em 1999, resultado do cruzamento entre C. Pão de Açucar e C. intermedia.


Cattleya Di Pozzi Tiziano (foto MRABraga)

Como exemplo de um trabalho sério de hibridização, destacamos a linhagem de híbridos com contribuição de Cattleya intermedia var. flamea, que vem sendo desenvolvida pelo paulista Sérgio Barani (Nobile’s Flores, Guararema, SP). 
Em 1998, Barani registrou o híbrido Brassolaeliocattleya Julio Barbero, resultado do cruzamento entre dois híbridos, um deles (Lc. Alexis Sauer) com 25% de material genético de uma Cattleya intermedia var. flamea. 
Daí para frente, com o bom resultado obtido, Blc. Julio Barbero foi usada na criação de diversos outros lindos híbridos, assim como Lc. Alexis Sauer.

As fotos a seguir falam por si só.


Foto 2 - Blc. Julio Barbero (Blc. Waikiki Gold x Lc. Alexis Sauer),
C. intermedia
contribuiu com 12,25% do material genético.



Foto 3 – Blc. Nobile’s Carnival (Lc. Alexis Sauer x Blc. Ademar Manarini), 12,5%.


Foto 4 – Blc. Nobile’s Aquarela (Blc. Toshie Aoki x Lc. Alexis Sauer), 12,5%.


Foto 5 – Blc. Nobile’s Starlux (Blc. Julio Barbero x Blc. Hawaiian Treasure) 6,25%.


Foto 6 – Blc. Nobile’s Tropical Sunset (Blc. Julio Barbero x Blc. Hsinying Gold), 6,25%.


Foto 7 – Lc. Nobile’s Aleluia (Lc. Alexis Sauer x C. Lulu), 12,5%.


Foto 8 – Blc. Lygia Fagundes Telles


Foto 9 – Blc. Fernanda Montenegro


Fotos de 2 a 9: Sérgio Barani