![]() |
Prólogo
à OrquidaRIO Vou apresentar-lhes a OrquidaRIO, que foi criada como Orquidófilos Associados do Rio de Janeiro, pequena sociedade civil constituída em 1986 e que reunia uns quantos dissidentes (pouco mais de 20, sendo que, nesse número, nem todos eram orquidófilos, mas foram instados a participar apenas para fazer número...) de uma outra sociedade, a Sociedade Brasileira de Orquidófilos - SBO, que já dava sinais da esclerose senil que é comum às organizações estagnadas e que passam a ser controladas por um só grupo de interesses. Nesses 13 anos a OrquidaRIO cresceu, encorpou e está, hoje, entre as maiores e mais importantes sociedades mundiais de amadores de orquídea, pela qualidade, quantidade e distribuição geográfica de seus sócios, disseminados por praticamente todos os continentes, contando entre os assinantes da revista que publica, Orquidário, entidades da importância com o Jardim Botânico inglês, o Kew Gardens, a Biblioteca do Herbário Oak Ames da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, a Sociedade de Ciências Naturais da Venezuela. No Brasil, além da Biblioteca Nacional, também recebem a revista a Biblioteca do Jardim Botânico do Rio de Janeiro e por aí afora. Conta, outrotanto, com associados singulares como David Brown, ex-Presidente da American Orchid Society e das Conferências Mundiais de Orquídeas, Rudolf Jenny, da Suíça, Karlheinz Senghas, para só citar alguns mais eminentes dentre os estrangeiros, já que os brasileiros são em tão expressiva quantidade, que tornaria impossível citar todos e para destacar alguns eu poderia estar cometendo injustiças. Suas publicações são lidas, em média, por 3 pessoas, como se apurou em pesquisa recente, o que demonstra o poder de disseminação de idéias de que desfruta. Agora, a partir de março deste ano de 1999, se chama OrquidaRIO - Sociedade Brasileira de Orquidófilos S. C. Como foi que isto aconteceu? É que vou tentar contar-lhes, neste que pretende ser um prólogo à história da OrquidaRIO e permitam os fados que nem eu, nem ninguém tenha que escrever um epílogo... Quem vai escrever uma apresentação ou uma pequena história de uma sociedade orquidófila tem, logo, a tentação de traçar um paralelo com o hábito e biologia da orquídea. É o que vou fazer, nada original!... O nascimento. Devo dizer que a OrquidaRIO nunca passou pela condição de seedling, já que foi transplantada a partir de um "corte" (por sorte, de pseudobulbos dianteiros, já que os traseiros e dormentes tinham ficado na velha organização, de tantas glórias e nomes importantes de antigos orquidófilos, mas já entregue à decadência que é comum nas coleções que envelhecem e não se renovam). O tempo passou e a SBO, de tão belo passado, de Luiz de Mendonça, Guido Pabst, Rolf Altenburg, para só citar alguns monstros sagrados da orquidofilia no Estado do Rio, quase sucumbiu, os seus poucos bulbos, desidratados, já sem folhas, pereciam, quando nós da OrquidaRIO concluímos que ou socorríamos a vetusta entidade, ou ela acabava, perdia-se um enorme patrimônio intelectual e um acervo patrimonial importante desapareceria para pagar dívidas que se acumulavam. Praticou-se um gesto de grandeza que bem ilustra o animus, a anima da OrquidaRIO e dos que lhe dão vida, fundiram-se as duas sociedades e aquela noite de março de 1999, foi como deveria ter sido aquela noite de há treze anos... Posto que não teve que passar pelo lento processo de crescimento, a OrquidaRIO, já no primeiro ano de existência, produziu uma bela floração que era a primeira, uma bela exposição, a que se deu o nome de Orquídea Collection (assim mesmo, Orquídea, em português, para que as pessoas soubessem do que se tratava e Collection, em inglês, para o toque mágico de uma língua estrangeira, como praticado na publicidade...) A mostra foi num sofisticado shopping da Zona Sul do Rio. Essa série estendeu-se por alguns anos, deu bons resultados, permitiu a descoberta de novos cultivadores (eu me incluo entre esses, pois me tornei sócio e assíduo freqüentador, já na primeira exposição), tornou-se uma espécie de tradição, pois a mostra incluiu-se no calendário da cidade e despertou o interesse de outros shoppings, já que era uma forma barata de publicidade para os empresários, pois que a única coisa que dispendiam os administradores desses locais era o espaço que nos cediam em troca de atrairmos grande quantidade de visitantes, o que sempre ocorria. A partir da primeira florada, a OrquidaRIO não mais parou de florir, em alguns casos até mais de uma vez ao ano; foram feitas exposições em shoppings da cidade, em universidades, em clubes e, até mesmo, em museus, como foi o caso da série que se realizou no Museu de Arte Moderna do Rio Janeiro, treinando-nos e nos preparando para o evento maior da história, curta, mas já tão densa, da sociedade, qual seja a realização da 15a. Conferência Mundial de Orquídeas, que se cumpriu, com inteiro êxito, em setembro de 1996. Vejam bem, dez anos depois de fundada a OrquidaRIO já entrava para a história da orquidofilia mundial como sociedade hospedeira daquela que foi considerada um dos melhores congressos orquidófilos dentre os já muitos realizados até hoje. O nome. Como tantos outros eventos históricos de relevância social, a OrquidaRIO foi criada num bar, o Bar Luiz, no centro do Rio, para onde se tinham dirigido os que tiveram a feliz idéia, certamente para afogar, com um bom chope, as mágoas e irritações por não terem podido renovar através de eleição não viciada os quadros dirigentes da antiga sociedade, a SBO. Criada, a sociedade devia ter um nome, uma logomarca e uma sede. É claro que todas essas coisas não aconteceram no bar. O nome de fantasia, que é uma das razões do sucesso da associação, OrquidaRIO, foi sugerido por Ziraldo, o grande cartunista mineiro. Não que seja orquidófilo ou tenha participado da fundação, mas pela circunstância de ser parente próximo de Manuel Martins, um dos fundadores da OrquidaRIO (que está entre os que chamo de para-orquidófilos, pelo fato de, não sendo um militante do cultivo, ter sido fundador, por que ligado a importante cultivador, no caso cultivadora, Ivana Zubic, sua namorada, assim como, para citar outro exemplo típico do que eu disse quanto a nem todos fundadores serem orquidófilos, como é o caso de Cecília Pessoa e Sandra Frank, esposas de Álvaro Pessôa e de Hans Frank, ambos, como eu, ex-presidentes, que também não são cultivadoras, mas que praticam uma orquidofilia bem mais difícil, cultivam orquidófilos...). Registra a história que a invenção do nome teria sido assim: Manuel Martins: "- Ziraldo, eu queria que você nos ajudasse a dar um nome expressivo a uma sociedade de amadores de orquídeas que acabamos de criar, aqui no Rio." Ziraldo: "- É simples. O nome que vocês dão à estufa onde cultivam suas plantas não é orquidário? Pois então, já que é no Rio a sociedade, fica sendo OrquidaRIO, assim com esse traço em baixo para graficamente destacar a localização, igualzinho à Petrobrás, que com o sublinhado destaca a sua condição de ser do Brasil" Com a logomarca foi mais complicado, fizeram um concurso, depois de já terem escolhido a flor símbolo, Sophronitis coccinea (nunca perguntei, mas também não tenho dúvidas de que a idéia da flor foi de Álvaro Pessoa, na época um apaixonado dessa, como de todas as Sophronitis; e que, sobre elas, escreveu, deu palestras, fotografou-as e todos sabem que são suas e dessa flor algumas das melhores fotos publicadas em Orquidário, a revista da sociedade). Para comprovar, lembro que era de Sophronitis coccinea o símbolo floral do Grupo Serrano de Teresópolis de que Álvaro foi um dos criadores. O concurso, depois de muita briga e discussão, foi ganho por um dos sócios fundadores e a logomarca é o feliz resultado de todos conhecido. Infelizmente nada disso foi documentado nos registros da sociedade. A primeira sede foi instalada, precariamente, numa chácara que um dos fundadores, Luiz Clemente Ferreira de Souza, mantinha na Ladeira Novo Mundo, que liga Botafogo a Laranjeiras, bairros cariocas, e que naquele tempo não era perigosa como nos dias de hoje. Não podia existir endereço mais simbólico para uma sociedade que começava e pretendia renovar a maneira de ser e ver a orquidofilia. Fico por aqui, já que me estendi um pouco mais do que caberia a uma pequena apresentação que deve ser breve e rápida como o abrir de uma porta para dar passagem. Se me pedissem para definir a OrquidaRIO em poucas palavras, eu diria que é o local onde se renova o amor pelas orquídeas e por sua preservação. Entre. Venha conhecer-nos. |