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Exposição:
o expoente máximo da orquidofilia.
Minha primeira experiência em exposição de orquídeas foi em 1954, em São Paulo, onde morava. Com meus 16 anos e com uma dezena de plantas, protegidas dos raios solares por um pequeno ripado, eu cuidava delas com todo o carinho, sob orientação do Sr. Tarcy, meu grande incentivador. Entre minhas plantas havia uma Miltonia candida com 36 flores e, como havia uma exposição em comemoração ao IV Centenário de S. Paulo, o Sr. Tarcy levou, entre suas plantas, a minha Miltonia. Qual não foi minha surpresa e alegria quando recebi o primeiro lugar daquela espécie. O mundo era pequeno para mim! Muitos anos depois, tendo me transferido para no Rio de Janeiro, associei-me à SBO - Sociedade Brasileira de Orquidófilos, onde participei de várias exposições, expondo e ajudando na montagem e organização. Normalmente as exposições eram feitas nos grandes hotéis da orla marítima de Copacabana, onde tínhamos que pagar altas taxas pelo espaço, pois jamais recebemos apoio das autoridades governamentais. As plantas eram expostas em bancadas, com dois níveis diferentes ou sobre mesas enfileiradas. Em 1986, com a fundação da OrquidaRIO por um grupo de 33 dissidentes da SBO, um novo conceito de exposição e julgamento de plantas começou a se desenvolver. Roberto Agnes, um dos fundadores da OrquidaRIO, com larga experiência em exposições e julgamento nos Estados Unidos e África do Sul, passou a comandar e orientar este novo conceito. Primeiramente, todos os vasos e plantas a serem expostos deveriam estar perfeitamente limpos, sem matinhos, liquens, musgos, folhas ou bulbos secos, etc. As folhas e bulbos, após a limpeza, recebiam uma demão de leite diluído em água, realçando, com isso, o brilho verde e proporcionando, ao público, uma visão de asseio e beleza. Os suportes de arame (suspensórios) que usamos para pendurar as plantas tinham que ser retirados. A identificação da planta devia ser escrita em etiqueta própria e legível. A segunda regra e a mais inovadora, revolucionária para a época (1987), foi a substituição das tradicionais bancadas, prateleiras e mesas por arranjos, artisticamente montados segundo a criatividade do expositor. Cada expositor, amador, profissional ou sociedade, tinha uma área delimitada e previamente combinada , segundo o potencial de plantas de cada um. Nesses stands, cada qual dava vazão à sua imaginação e, assim, folhas secas, serragem, bambus, xaxim, troncos e galhos, cerâmicas, tijolos, cascalho, musgo, bromélias, avencas, samambaias e infinitos outros materiais passaram a fazer parte da exposição, formando lindos recantos com altos e baixos. Os vasos (normalmente feios), camuflados com materiais contrastantes, realçavam a planta e a flor. A seleção de plantas por espécie, altura e cor, harmoniosamente distribuídas no stand, além de facilitar o julgamento, criou conjuntos com nuanças de coloridos bem definidos. Este novo conceito foi praticado, pela primeira vez, em setembro de 1987, numa exposição em um shopping da zona sul do Rio. O impacto no público foi algo inesquecível! Todos estavam maravilhados. No salão, praticamente em silêncio, só se ouvia sussurros de encantamento, acompanhados de gestos indicativos de qualquer flor ou arranjo que despertasse a admiração do espectador. Indiscutivelmente, montar uma exposição desta forma é muito mais trabalhoso do que em bancadas, tanto para os organizadores como para os expositores, mas vale à pena! Normalmente as exposições de orquídeas são feitas de quinta-feira a domingo, ou seja, na quinta-feira faz-se o recebimento das plantas, montagem dos stands, julgamento das flores e inauguração (quando há). De sexta-feira a Domingo, a exposição é aberta ao público. Quando de minha gestão como presidente da OrquidaRIO, realizamos oito exposições de portes diferentes, sendo uma pequena, em plena praça pública, ao lado do Jardim Botânico do Rio de Janeiro; quatro médias, em universidades e três maiores realizadas no MAM - Museu de Arte Moderna. Dentre estas, tivemos uma exposição internacional, que serviu como preparação para a 15ª WOC, que pretendíamos sediar em 1996. Em 1995, realizamos ali nossa já tradicional exposição da Primavera. Finalmente, em 1996, tivemos a participação efetiva da OrquidaRIO junto à comissão organizadora do 15º WOC. Iniciamos estes comentários com o título de "Exposição: o expoente máximo da orquidofilia". Vejamos porque: É indispensável a qualquer associação de orquidófilos a realização de exposições. É lá que se reúne a grande massa dos amadores. Revemos velhos companheiros que, muitas vezes, se encontram afastados do meio orquidófilo, mas não resistem ao chamado de uma exposição. Passamos a conhecer outros parceiros, de outros bairros, cidades, estados e, até, de outros países. São dias onde o único assunto são as orquídeas: "a mais bela", "o stand mais bonito", "veja esta rupícola", "olhe aquele híbrido", "onde comprar", como cultivar", "qual o defensivo", enfim, cada qual falando de suas plantas, seus desejos, anseios e temores. É lá o grande momento de tomar conhecimento das novidades, dos melhoramentos genéticos das espécies, dos novos híbridos, tanto nacionais como estrangeiros. Na exposição, o orquidófilo recicla o padrão de qualidade de suas plantas, ao compará-las com as expostas e, obviamente, não deixa de passar pelos stands de vendas dos orquidários profissionais, onde passa a conhecer ou estreitar seu relacionamento com o proprietário ou com o encarregado da casa. Após isso, dificilmente deixa de adquirir ou encomendar pelo menos uma planta. Para o profissional ou orquidário comercial, é o grande momento de, além de expor suas plantas, divulgar o estabelecimento junto ao público, estreitar seu relacionamento com o mercado consumidor garantindo, com isso, suas vendas durante os próximos meses (talvez, anos). Se o evento for bem divulgado pela mídia trazendo, com isso, um grande público, com certeza a venda de plantas (principalmente as floridas) lhe proporcionará um bom retorno comercial. Para a associação de orquidófilos é a hora de mostrar seu potencial e a força do seu quadro de associados e colaboradores, além de gerar recursos para cobrir seus custos de manutenção. Uma exposição bem organizada, bonita, bem divulgada e com grande fluxo de público é a mola mestra para aumentar seu quadro de associados, conseguir patrocinadores e, talvez, o apoio de alguma entidade ou órgão governamental, entidades e órgãos que, até a presente data (ao menos no Rio de Janeiro), não despertaram para o grande potencial que é uma exposição de orquídeas, para o desenvolvimento da cultura, turismo e meio-ambiente. Honrosa exceção foi o apoio que tivemos, em 1995, da Secretaria do Meio-Ambiente do Rio de Janeiro, na pessoa do Sr. Alfredo Sirkis. E, por fim, o expoente máximo: o público. Uma exposição, antes de mais nada, tem que ser planejada e executada para o público. Ele é quem mais se encanta. Não acha plantas nem stands feios, não sabe se a flor tem boa forma, textura nem substância. Na maioria das vezes, nem entende o porquê dos primeiros, segundos e terceiros lugares, frutos do julgamento das plantas. Para ele, tudo é fantástico, colorido e perfumado. Não critica, não blasfema e não se queixa por ficar horas na fila, rodando os stands. Muitas vezes ouvi pessoas invocando Deus, por verem tanta beleza! Raramente deixa o local sem, antes, comprar uma plantinha que seja. De volta ao cotidiano, comenta com os amigos e familiares o que acabou de ver e, não raramente, vemos um visitante novamente, acompanhado de mais alguém: sua esposa, seu marido, namorada ou amigo, ou seja, é o maior divulgador da exposição. Por isso, o crescendo de pessoas a cada dia, de sexta a domingo. Nosso público é diferente do que freqüenta exposições de animais, artes plásticas, etc. Ele tem uma sensibilidade mais seletiva e prática. Almeja, apenas, cultivar uma orquídea e, para isto, não precisa do talento de um grande pintor ou escultor nem de uma área específica para a criação de animais, por exemplo. Daí, sua ansiedade em saber mais sobre as plantas: onde aprender, onde e como cultivar, onde comprar. E, aí, começa o ciclo: a coleção, a associação de orquidófilos e os orquidários comerciais. |